mercredi 19 juin 2013

Valter Hugo Mãe

Valter Hugo Mãe (Portugal, 1971) est né en Angola et vit actuellement au Portugal. Poète, romancier, essayiste, critique. Il a été éditeur d’une des maisons d’édition de poésie les plus importantes au Portugal, où il a publié plusieurs jeunes poètes. Parmi ses livres récents : pornografia erudita, Edições Cosmorama, 2007; livro de maldições, Objecto Cardíaco, 2006. Son roman o remorso de baltazar serapião, paru chez Quidnovi en 2006, lui a valu le Prix José Saramago. Sur son œuvre, on a publié: A meta física do corpo, sobre a poesia de valter hugo mãe, avec une anthologie, de Rui Lage, Edições Cosmorama, 2006.

nous avons une définition valable de la présence du bétail, une perception singulière qui nous révèle au contenu du jour, le secret de dieu auquel on ne peut échapper

nous lançons le temps contre le corps et menaçons de nous enfermer dans le mutisme

nous existons comme simples émanations des animaux

a capitalização do amor

não escondemos que aprendemos a capitalizar o amor, entregando amplamente os nossos melhores momentos às raparigas mais carentes. o amor, sabemos bem, é o caminho directo para a inutilidade, e nós procuramos as raparigas que mais rapidamente se inutilizem perante as coisas clássicas da vida. não nos queremos atarefar com a vulgaridade, e gostaríamos até de impregnar cada gesto com características alienígenas, mas o tempo escapa-se e o dinheiro também e, se só pensamos no amor, não temos como fazer de outro modo senão vendê-lo entusiasticamente, como fontes de trovões bonitos jorrando nas praças mais movimentadas das cidades. e as raparigas correm para nós urgentes e cheias de vida, férteis de tudo quanto o amor se abate sobre elas, uma alegria rica de se ver, e nós a balançar os braços para chamar a atenção de mais e mais e já nem sabemos como parar, como forças incontroladas, à semelhança de mecanismos ferozes da natureza, e só sairemos daqui quando desfalecermos de amor até pelas raparigas mais feias

poema sobre o amor eterno

inventaram um amor eterno. trouxeram-no em braços para o meio das pessoas e ali ficou, à espera que lhe falassem. mas ninguém entendeu a necessidade de sedução. pouco a pouco, as pessoas voltaram a casa convictas de que seria falso alarme, e o amor eterno tombou no chão. não estava desesperado, nada do que é eterno tem pressa, estava só surpreso. um dia, do outro lado da vida, trouxeram um animal de duzentos metros e mil bocas e, por ocupar muito espaço, o amor eterno deslizou para fora da praça. ficou muito discreto, algo sujo. foi como um louco o viu e acreditou nas suas intenções. carregou-o para dentro do seu coração, fugindo no exacto momento em que o animal de duzentos metros e mil bocas se preparava para o devorar

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