vendredi 21 juin 2013

Je hais les feux rouges par Antonio Lobo Antunes

Extrait du livre des chroniques :

Je hais les feux rouge. En premier lieu parce qu'ils sont toujours rouges quand je suis pressé et verts quand j'ai tout mon temps, sans parler de l'orange qui provoque en moi une indécision horrible : dois-je freiner ou accélérer ? J'accélère, puis je freine, je réaccélère et à peine ai-je freiné de nouveau que déjà une fourgonnette emboutit ma portière, déjà une foule de gens se rassemble dans l'espoir de voir du sang, déjà un type armé d'une clé anglaise sort de la fourgonnette en me traitant de sombre crétin, déjà ma compagnie d'assurances me propose chaleureusement d'en changer pour un concurrent quelconque, déjà me voici privé de voiture pendant une semaine, me voilà déjà au bord du trottoir à faire des signes de naufragé aux taxis, me voilà déjà à payer une fortune pour chaque voyage où je dois par-dessus le marché supporter le ver luisant magique et la Ste Vierge en aluminium sur le tableau de bord, le squelette en plastique pendu au rétroviseur, l'autocollant représentant une demoiselle à chapeau et cheveux longs près de la pancarte "ne pas fumer je suis asthmatique"... La deuxième et principale raison qui m'incite à haïr les feux rouges tient au fait qu'à chaque fois que je m'arrêtes surgissent derrière ma vitre des créatures invraisemblables : vendeurs de journaux, vendeurs de pansements adhésifs, des dames vertueuses avec des boîtes en métal pendues à leur poitrine qui vous collent autoritairement sur le coeur le crabe du Cancer, les gros balèzes de la Ligue pour les aveugles dans le sillage d'un haut-parleur sur le toit d'un tas de ferraille flambant neuf, le citoyen digne à qui on a volé son porte-monnaie et qui a besoin d'acheter son billet de train pour Porto, le tuberculeux avec son certificat à l'appui, toute la caste des infirmes (micocréphales, macrocéphales, boiteux, bossus, bras étiques, mains avec six doigts, mains sans un doigt, mongoliens, dirigeants de partis politiques, etc.), sans compter l'escouade des pompiers volontaires qui ont besoin d'une ambulance, les lauréats de l'Université de Combra, en cape et soutane, qui ont décidé de faire un voyage de fin d'études en Birmanie et les jeunes toxicos qui n'ont pas réussi à voler un seul lecteur de cassettes ce jour-là. Résultat : au premier feu rouge je n'ai déjà plus de monnaie. Au deuxième je me retrouve sans veste. Au troisième sans chaussure. Au cinquième tout nu. Au sixième je donne ma Volkswagen. Au septième j'attends que le feu passe au rouge pour assaillir à mon tour, mêlé à la multitude de pompiers, étudiants, drogués et microcéphales, le premier véhicule qui s'arrête. En moyenne je change cinq fois de vêtements et de voiture avant d'atteindre ma destination, et quand j'arrive, au volant d'un camion TIR, flottant dans un pantalon gigantesque, mes amis se plaignent que je ne suis pas ponctuel.!

Odeio semáforos. Em primeiro lugar porque estão sempre vermelhos quando tenho pressa e verdes quando não tenho nenhuma, sem falar do amarelo que provoca em mim uma indecisão terrível: travo ou acelero? travo ou acele¬ro? travo ou acelero? acelero, depois travo, volto a acelerar e ao travar de novo já me entrou uma furgoneta pela porta, já se juntou uma data de gente na esperança de sangue, já um tipo de chave-inglesa na mão saiu da furgoneta a chamar-me Seu camelo, já a companhia de seguros me propõe calorosamente que a troque por uma rival qualquer, já não tenho carro por uma semana, já me ponho na borda do passeio a fazer sinais de náufrago aos táxis, já pago um dinheirão por cada viagem e ainda por cima tenho de aturar o pirilampo mágico e a Nossa Senhora de alumínio do tablier, o esqueleto de plástico pen¬durado do retrovisor, o autocolante da menina de cabelos compridos e chapéu ao lado do aviso «Não fume que sou asmático», proximidade que me leva a supor que os problemas respiratórios se acentuaram devido a alguma perfídia secreta da menina que não consigo perceber qual seja. A segunda e principal razão que me leva a odiar os semáforos é porque de cada vez que paro me surgem no vidro da janela criaturas inverosímeis: ven¬dedores de jornais, vendedores de pensos rápidos, as senhoras virtuosas com uma caixa de metal ao peito que nos colam autoritariamente sobre o coração o caranguejo do Cancro, os matulões da Liga dos Cegos João de Deus nas vi¬zinhanças de um altifalante sobre uma camioneta com um espadalhão novo em folha em cima, o sujeito digno a quem roubaram a carteira e que precisa de dinheiro para o comboio do Porto, o tuberculoso com o seu atestado comprovativo, toda a casta de aleijões (microcefálicos, macrocefálicos4, coxos, marrecos, estrábicos divergentes e convergentes, bócios6, braços mirrados, mãos com seis dedos, mãos sem dedo nenhum, mongoloides, dirigentes de partidos políticos, etc.) sem contar o grupo de Bombeiros Voluntários que necessita de uma ambulância, os finalistas de Coimbra, de capa e batina, que decidiram fazer uma viagem de fim de curso à Birmânia e a rapaziada da heroína que não conseguiu roubar nenhum leitor de cassetes nesse dia. Resultado: no primeiro semáforo já não tenho trocos. No segundo não tenho casaco. No terceiro não tenho sapatos. No quinto estou nu. No sexto dei o Volkswagen. No sétimo aguardo que a luz passe a encarnado para assaltar por meu turno, de mistura com uma multidão de bombeiros, de estudantes, de drogados e de microcefálicos o primeiro automóvel que aparece. Em média mudo cinco vezes de vestimenta e de carro até chegar ao meu destino, e quando chego, ao volante de um camião TIR, a dançar numas calças enormes, os meus amigos queixam-se de eu não ser pontual.

Aucun commentaire: