lundi 17 juin 2013

Lost Scriptum

"Quem foi no domingo passado à Casa De Portugal Andréde Gouveia,naCité Universitaire de Paris, para assistir ao recital-concerto“Lost Scriptum”ficou pelomenos com a certeza que viu um espetáculo único e inédito. “Esta é a segunda vez que acolhemos O Patrick Caseiro na Casa dePortugal, Em dois espaços diferentes”disseAna Paixão, a Diretora da Casa. “Desta vez estamos aqui nesta sala ainda em obras e deixo desde já o convite para uma terceira vez, quando este teatro estiver construído, que espero seja para breve” Em “Lost Scriptum” a voz, o som e a imagem sobrepõem-se, fragilizando a fronteira entre a energia do rock e os murmúrios poéticos. Não se sabe ao certo se é um recital de poesia ou um concerto de rock. “Eu chamar-lhe-ia uma coisa estranha, tipo um híbrido, uma miscelânea entre poesia dita, declamada, com imagens e também com canções, num formato mais clássico da canção” explica Patrick Caseiro ao LusoJornal. O poema é o fio condutor. Aliás, uma frase de Friedrich Nietzsche é várias vezes repetida: “Cada palavra é um preconceito”. “A ideia de ‘Lost Scriptum’ - em vez de ser um ‘Post Scriptum’ - é uma Forma de congelar, de certa forma, escritos que podem estar no fundo das gavetas, perdidos.Vamos então procurar textos de autores por quem nutrimos uma certa admiração, sejam eles lusófonos, francófonos ou até anglófonos. A ideia é pôr em palco os textos destas pessoas. O formato, apetece me dizer que não é o mais importante, mas é sobretudo arranjar um fio condutor” explica Patrick Caseiro. Estavam anunciados poemas de vários autores, desde Fernando Pessoa a Jack Kerouac, passando por Al Berto, Eugénio deAndrade, Nick Cave, Bashung, Valter Hugo Mãe, Charles Baudelaire, Manoel Bandeira, António Topa, Maria Graciete Besse, Charles Bukowski,... e do próprio Patrick Caseiro. “O Miguel Torres é um espanhol que é sedento de literatura portuguesa, ele adora os poetas hispanófonos, mas adora também os autores portugueses, sentiu que há ali uma coisa de muito visceral e profunda, sentiu que há ali uma grande pesquisa e eu quando senti isso, lancei-lhe o desafio. Inicialmente fizemos uma série de espetáculos a dois”.E Miguel Torres lá estava incansável, entre os dois projetores que cuspiam imagens em movimento nas paredes nuas do futuro anfiteatro, ou ajudando nas percussões. Marco de Oliveira, também lá estava, na guitarra e nas programações. “O Marco toca comigo na banda da qual sou uma espécie de mentor, o projeto Pat Kay. Ele já é o guitarrista da banda. Gostou do princípio e é o segundo espetáculo que fazemos a três. A coisa está-se a construir progressivamente diz Patrick Caseiro ao LusoJornal. O trio quer levar o espetáculo a outras salas, a outros espaços. “Cada espetáculo é sempre diferente. O desafio que nos lançámos os três é de cada vez fazer uma coisa inédita. Hoje tínhamos aqui um espaço muito rugoso, as paredes nem estão ainda caiadas nem nada, num anfiteatro faremos uma coisa mais clássica em termos de declamação de textos, embora sempre com música. Vamos personalizando em função do espaço”. No segundo semestre o “Lost Sciptum”deve viajar até Portugal.“Vamos levar este ‘set’, que é um autêntico ‘chantier’,uma empreitada que nunca está acabada, até Portugal. Já temos uma série de datas, desde o norte, até ao Alentejo, passando, claro, pela Capital. E aí sim, vamos trabalhar na língua portuguesa mais do que na francesa ou na inglesa”.

Cada Dia Cada dia é uma pequena vida Uma farpa, uma investida Contra o ar que avança E na esquina nos alcança Cada dia, uma pequena vida Um beco sem saída Vem, lambe-me a ferida! Sou homem-bicho sem guarida Cada dia é uma pequena vida Cada dia é uma pequena ida Um vaivém contra o tempo Maquinal e violento!. . Cada dia, nova romaria: As bocas do metropolitano Cospem rebanhos matinais Mesmas pressas Mesmas preces Mesmos ais! Hoje, vou desmarcar tudo E marcar encontro comigo Ladear o perigo exterior Adiar o grito do pudor Soluços pautam o monólogo Debruço-me sobre o copo Questiono-lhe o fundo Que me apela ao mergulho O marulhar do whisky Que me inebria E me devolve ao passado E eu, por única companhia Deste copo servil e prateado Cada dia é uma pequena vida Cada dia é uma pequena ida Um vaivém contra o tempo Maquinal e violento!. . Caio no regaço da noite. . Exausto, na busca da verdade Deito-me sobre o trânsito Já moribundo da cidade

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